IV Colóquio
Platônico ARAÚJO, Carolina de Melo Bomfim. A tão buscada definição de justiça surge no livro IV da República, a seguir às definições de coragem, temperança e sabedoria, como a forma segundo a qual a cidade participa da excelência (432b). Indica-se, com esse encaminhamento, uma diferença de níveis no interior de um grupo em geral tratado como “as excelências”. A justiça confere poder e salvaguarda aos outros integrantes deste grupo, como apontado em 433b, ou ainda, como aparece em 443b, ela é um poder que causa todos esses outros elementos. Essa prerrogativa da justiça, no entanto, relaciona-se ao fato de que o que agora é apresentado como a sua definição – fazer o próprio – é indissociável do momento de fundação da cidade (433a, 443c). Em jogo está, portanto, o sentido de arkhé, como princípio e governo, e o argumento, talvez estranho, de que só é possível ser justo desde o princípio. Esta exposição dedica-se a tentar esclarecer essa estranheza. [ índice ] BOERI, Marcelo Diego. Hay muchas razones por las cuales se podría argumentar que República IV es un texto importante en la producción filosófica de Platón, pero tal vez una razón decisiva es que constituye el pasaje en el cual aparece del modo más detallado y quizá por primera vez una psicología de partes en conflicto. En esta presentación me propongo examinar las explicaciones (explícitas e implícitas) que ofrece Platón para probar que lo thymoeidés debe entenderse como una tercera parte del alma diferente de la racional y la apetitiva, aunque “aliada” a la racional. Me centraré en los pasajes en los que Platón investiga por qué lo thymoeidés no puede ser semejante en naturaleza (homphyés; 439e4-5) a lo apetitivo (como se asume al comienzo de la sección en que se está intentando descifrar en qué consiste esta tercera parte diferente de la racional y la apetitiva). Discutiré especialmente (i) la sugerencia explícita de Platón, según la cual el thymós puede tener algún tipo de “creencia o parecer” respecto de una noción evaluativa como “justo” (symmakhei to(i) dokonti dikaío(i); 440c8); (ii) la duda que experimenta Sócrates cuando sugiere que, si lo thymoeidés es una forma de lo racional, no habrá tres, sino dos partes del alma (la racional y la apetitiva; 440e8-10) y (iii) la, en cierto modo, sorprendente afirmación de que una persona pueda ser llamada moderada cuando lo que gobierna y los gobernados (i.e. lo colérico y lo apetitivo) tienen una creencia semejante respecto de que lo racional debe gobernar (442c11-12: tò te árkhon kaì tó(i) arkhómeno tò logistikón homodokôsi). [ índice ] BOLZANI FILHO, Roberto. No livro IV de A República, Sócrates, em busca da definição de justiça, adota o procedimento de encontrar as outras virtudes na cidade - sabedoria, coragem e temperança -, para então reconhecer a restante, a própria justiça (428a). Como a justiça na cidade e a justiça no indivíduo diferem entre si, conforme nos ensinava o início da investigação no livro II, apenas em dimensão, mas não em conteúdo, falar sobre as virtudes da cidade será também falar sobre as virtudes da alma, pois na “na cidade há as mesmas partes que há na alma de cada um e são iguais a elas em número” (441c). Assim, “tal como a cidade é sábia por um certo motivo, também o indivíduo...pelo mesmo motivo;...pelo mesmo motivo e da mesma forma que o indivíduo é corajoso, também a cidade deve ser corajosa...o homem também é justo da mesma forma pela qual a cidade é justa” (441c-d). [ índice ] BOUVIER, David. Au livre IV, 427b, Socrate rappelle qu’il revient à Apollon de fixer les lois que l’on pourrait appeler «religieuses», celles qui regardent la fondation des temples, les sacrifices, le culte des dieux, et les honneurs funéraires. La remarque est faite rapidement mais elle permet de reconnaître dans la République l’opposition entre lois sacrées et lois politiques. On peut partir de ce passage pour examiner plus précisément l’autorité d’Apollon dans la République. On s’interrogera ainsi sur la compétence que le dieu pourrait avoir sur les lois de la musique et de la gymnastique, dont Socrate a rappelé plus haut qu’il ne faut en aucun cas les changer (“tò mè neoterízein perì gymnastikén te kaì mousikèn parà tèn táxin”) (424b5). [ índice ] BRANDÃO, Jacyntho Lins. O trabalho visa a mostrar que a principal descoberta de Platão, na República, é de ordem “psicológica”: o thymoeidés como elemento central da alma, na medida em que regula a articulação entre o “racional” (logistikón) e o “concupiscente” (epithymetikón). Uma vez que o guardião deve ter a natureza do cão de boa índole, de modo a ser feroz com os estranhos e doce com familiares, todo o excurso educacional presente nos livros II e III tem como objetivo explorar qual a reta “paidéia” que se deve administrar àqueles que apresentam um caráter irascível, sabendo-se que a irascibilidade é o traço primeiro do guardião e define sua natureza. Portanto, na exploração da constituição da alma, é necessário admitir-se a existência de um terceiro elemento, o thymoeidés, para o qual se volta preferencialmente a “paidéia” do guardião, que, por sua vez, é como que o thymoeidés da pólis. Assim, saber o que é a justiça no homem e na cidade depende de considerar o que vem a ser essa "parte" da alma, a mais difícil de ser compreendida, justamente por ocupar uma posição intermediária. [ índice ] CASNATI, Gabriela. El diálogo Timeo comienza con un repaso de los temas tratados “ayer” en República II-V (Timeo 17c-19a). Dado que “hoy” lo que va a tratarse es el origen del universo y la naturaleza del hombre, es importante tener en cuenta que Platón inicia su exposición recordándonos, entre otras cuestiones, cuál sería la mejor organización política y qué hombres la conformarían, qué sería lo conveniente a cada ocupación, como así también la naturaleza propia de las almas de los guardianes del Estado y la educación temprana apropiada a ellos. Es llamativo que Platón mantenga en silencio cualquier referencia a la formación dialéctica de los filósofos-guardianes y a su doctrina metafísica de las Formas. ¿Será la razón de esto –como sostuvieron entre otros H. Jackson y R. D. Archer-Hind- que en Timeo Platón abandonó su teoría madura de las Ideas, ya problematizada en Parménides? Sin llegar a sostener una posición tan extrema, no podemos negar que gran parte del diálogo Timeo se asemeja a un tratado físico-matemático, donde el mundo de la apariencias sensibles parece querer ser explicado a través de la estructura geométrica de los cuerpos y a partir de los “elementos” últimos: dos clases de triángulos, y que dicha dilucidación en nada se asemeja a cualquier elaboración metafísica de la República. [ índice ] COSTA, Admar Almeida da. O livro IV da República de Platão começa com a pergunta de Adimanto sobre a possibilidade dos guardiões serem felizes, face às restrições que lhes foram impostas no fim do livro III. Em resposta, Sócrates afirma que a cidade inteira deve ser feliz, e não apenas a classe dos guardiões (420b-c). Adiante, no passo 440e-441a, a divisão de classes da cidade se repetirá na alma. Assim, respeitando a correspondência, estipulada por Sócrates, entre as três classes da cidade e as três partes da alma, gostaríamos de investigar como é possível harmonizar a felicidade de cada parte e de cada classe com a felicidade do todo. Em outras palavras, como proceder para que o governado se convença de que sua felicidade é proporcional àquele que detém o governo? [ índice ] CORRÊA, Paula da Cunha. Na República de Platão, a alma harmoniosa é freqüentemente descrita em termos musicais. Pretendo examinar, no quarto livro, a concepção da sophrosýne (“prudência”) que opera uma espécie de harmonía que se estende tanto pelas partes distintas da sociedade (432a), quanto pelas partes da alma tripartite que, por sua vez, harmonizam-se como as três notas (ou cordas) básicas da oitava (Rep. 443d). [ índice ] ESCOBAR, Jairo. Me propongo en este ensayo pensar las relaciones que Platón establece entre polis y psychê. Las preguntas que orientarán mi investigación son las siguientes: ¿Qué significa un estado justo? ¿Qué quiere decir que una persona es justa? ¿Qué relación se puede pensar entre la justicia de la polis y la justicia del alma individual? Creo que esta última pregunta, desde la perspectiva platónica, es la más interesante, pero también la más difícil de responder. Es cierto que una ciudad justa tiene más posibilidades de generar individuos que se comporten justamente, así como individuos justos en su alma pueden contribuir a producir una ciudad más justa, pero esta relación no es una relación de reflejo, sino que pueden darse rupturas, quiebres, por ejemplo en el sentido de que en una ciudad formalmente justa se den individuos que se comporten injustamente consigo mismo y con los demás. O viceversa: que una ciudad de individuos formalmente justos, educados justamente, pueda producir una ciudad en general injusta. ¿Cómo es esto posible? Esta posibilidad es la que me interesaría pensar en esto ensayo. [ índice ] FRANCO, Maria Sylvia Carvalho. O livro IV da República enfrenta contradições, examinando estruturas cujos componentes são, ao mesmo tempo, incompatíveis e necessários à sua gênese e desenvolvimento. Um desses focos visa a dupla natureza do guardião, com suas determinações antagônicas (gentil e irascível), mas sem as quais é impossível que venha a existir. Também a complexa figura do governante, equacionada à natureza do filósofo, compõe-se de dons teóricos e talentos práticos antitéticos e, simultâneamente, imprescindíveis à sua integridade. [ índice ] LIMA, Paulo Butti de. São muitas as ciências na cidade, mas uma, em particular, diz respeito à euboulía, ao bom conselho, e torna sábia a cidade como um todo: trata-se da phylakikè epistéme, da ciência protetiva, que é possuída pelos guardiães “perfeitos”. É assim que, no livro quarto da República, Platão funda a “ciência da política”, uma ciência que tem por objeto o modo em que a cidade “se põe em relação consigo mesma e com as outras”. Mas qual é este conhecimento, considerado em sua especificidade? Qual o “conteúdo” de um saber que diz respeito ao cuidado – epiméleia – de alguns indivíduos pelos demais cidadãos? A educação filosófica deverá incluir em seu percurso uma formação – ensino ou experiência – especificamente “política”? E qual a relação entre o conhecimento político possuído pelo filósofo da cidade ideal e a observação concreta da cidade corrompida? Enfim, cabe perguntar se, para fundar a cidade da República, era necessário que Sócrates possuísse uma epistéme que se torna um atributo desta cidade e que a caracteriza como sábia em seu conjunto, e não só nas figuras de seus cidadãos mais destacados. [ índice ] LOPES, Antonio Orlando de Oliveira Dourado. [ índice ] MARQUES, Marcelo Pimenta. Em que medida o aparecer contraditório é constitutivo do processo mesmo do pensar (dianóeisthai) e, em particular, do pensar a alma? Trata-se do desafio de pensar “o que é”, assim como “o que não é”, com relação à alma e de ser capaz de dizê-lo discursivamente, ao longo do exame compartilhado, sem dizer algo risível ou absurdo. É preciso analisar a alma na sua relação com a cidade, examinar, particularmente, seres e situações que parecem ser opostos ou contrários (enantíoi) e perante os quais os interlocutores são obrigados a se perguntarem o que eles são ou não são, realmente. [ índice ] MORAES AUGUSTO, Maria das Graças de. Análise da noção de demiourgós no livro IV da República, no contexto da apología apresentada por Sócrates em favor da eudamonía do phýlax. [ índice ] MOTTA, Guilherme Domingues da. No início do livro IV da República, Adimanto pede que Sócrates se defenda do argumento de que os guardiões da cidade recém-formada não serão felizes por não usufruírem dos bens de uma cidade que na verdade lhes pertence. Não há surpresa, pois as concepções de governo, de felicidade e de bem implícitas em seu argumento, segundo as quais os verdadeiros bens são aqueles que dão satisfação à ambição e às paixões, permeiam todas as intervenções tanto de Adimanto quanto de Gláucon, no papel de arautos da opinião da maioria. O que é preciso notar, entretanto, é que o que essa fala inicial de Adimanto denuncia é que está longe de compreender a cidade que acaba de ser construída. O que todo argumento de Sócrates na República vai descortinando é que não só os únicos bens não são os bens sensíveis, como estão longe de constituir o que tornará os habitantes da cidade, na sua totalidade, felizes. Se é a identificação da felicidade com a “boa vida” que torna possível que todos sejam felizes e se o fundamento da “boa vida” é a educação, então é preciso compreender que a educação inicial proposta para os guardiões na República é uma educação comum a todos, independentemente de classe. Assim, perde o sentido tanto a tese levantada por Adimanto, de que os guardiões são os menos felizes, quanto a tese contrária, de quem vê na cidade proposta na República uma divisão de classes na qual se busca a excelência e felicidade de poucos às expensas de trabalho de uma classe de artesãos inferiorizada e afastada da felicidade. [ índice ] OLIVEIRA, Camila do Espírito Santo Prado de. Na abertura do livro IV da República, Adimanto toma a palavra e pergunta a Sócrates se o modo de vida dos guardiões, que acabara de ser acordado, fará deles homens felizes. Sócrates responde que não seria de admirar se eles fossem muito felizes vivendo assim, mas que a cidade não estava sendo fundada tendo em vista a felicidade de uma de suas partes, mas da cidade toda. Esta resposta diz: é preciso que o todo (a cidade) seja feliz e não a parte (uma das classes), pois é o todo que determina o que cada parte é, isto é, é em função do bem do todo que cada uma das partes recebe uma função e deve cumpri-la. A felicidade do todo vale mais que a felicidade da parte. O todo vale mais que a parte. [ índice ] REIS, Maria Dulce. Em resposta à tese geral de que o homem mais injusto é o mais feliz, Sócrates desenvolve entre os livros IV e IX da República três demonstrações de que o homem justo (o rei-filósofo) é o mais feliz. A primeira, leva em conta a diferença entre a natureza da alma do filósofo e da alma do tirano. Ao contrário do tirano, o filósofo é “rei de si mesmo”, é livre, justo, é mais feliz. A segunda parte da análise dos diferentes tipos de prazer e de homem. O filósofo julga melhor, obtém o prazer mais agradável e a vida mais aprazível. A terceira baseia-se na supremacia do prazer do filósofo, o prazer “puro”, resultado da experiência daquilo que está “verdadeiramente acima”, daquilo que ‘é’. Todas as três demonstrações pressupõem a teoria da tripartição da alma, exposta no livro IV, a supremacia do elemento racional em relação aos demais elementos da alma, e por isso a importância da educação do logistikón, o que nos mostra a amplitude e importância da tripartição da alma, na teoria ético-política de Platão. [ índice ] RIBEIRO, Adriano Machado. Sócrates, em 427e, afirma que é perfeita a cidade cuja fundação é baseada na educação anteriormente apresentada. Sendo assim, conclui, “ela é sábia e corajosa, temperante e justa”. Neste sentido, a presença de uma das quatro qualidades mencionadas implica a das outras três. Não há como deixar de lado a proximidade de tal afirmativa com a unidade socrática das virtudes nos primeiros diálogos de Platão. Para verificar tal aproximação, contudo, o presente trabalho procurará restringir-se à análise das duas primeiras. Para Sócrates, a ciência do governante é a única a ser denominada propriamente de sabedoria. (429a). Esta pertence a um grupo pequeno e se apresenta por natureza. Já a coragem – que também como aquela restringe-se a uma parte dos membros da cidade – será a preservação da “opinião de que eles são tais e quais aqueles que o legislador indicava ao tratar da educação” (429b). Há, neste caso, uma dóxa formada sob a ação da lei e pela educação que, permanente, não se modifica. Centrando-se, pois, nestas duas primeiras virtudes caberá aqui indagar quanto da perspectiva do Sócrates dos diálogos aporéticos ainda se mantém; e quais são as mudanças significativas aqui efetuadas. Sendo assim, é interessante constatar uma espécie de unidade das virtudes, mesmo que agora enunciada como própria de uma cidade. Neste sentido, cabe destacar o deslocamento da piedade e a troca dela pela sabedoria. Além disso, quanto à coragem, é significativo ser ela a manutenção de uma dóxa pela educação: a tese socrática da República traz assim, como uma resposta, uma interlocução curiosa com os ditos diálogos socráticos, pois sobreleva a aptidão por uma phýsis bem como a importância da educação, dois pontos modelados, diferentemente dos diálogos aporéticos, a partir de uma perspectiva política. [ índice ] SANTA CRUZ, Maria Isabel. Como es bien sabido, en el libro IV Platón introduce su teoría de la tripartición del alma, que retoma en los libros VIII y IX. El alma está constituida por tres “partes” (eíde: 439 d, o mére), una racional, el logistikón, y dos irracionales, el epithumetikón, que es alógistos, y el thumós. En este trabajo interesa examinar la argumentación que esgrime Platón para “deducir” las partes del alma, especialmente el thumós, así como abordar el problema de si en República la tripartición del alma se introduce para justificar las tres clases del estado o si, en cambio, Platón, para proponer esta teoría, tiene razones fundadas, basadas en el examen de la individualidad humana. En todo caso, aun cuando tenga tales razones, se intentará mostrar cómo la tripartición propuesta es funcional al argumento que se desarrolla tanto en el libro IV como en los libros VIII y IX. |