Politeía e Utopia
no pensamento antigo


BRANDÃO, Jacyntho Lins
Politeía platônica e politeía mosaica em Fílon de Alexandria
Universidade Federal de Minas Gerais

O trabalho tem como objetivo examinar o que torna possível, para Fílon de Alexandria, fazer dialogar a politeía platônica com a Torah dos judeus, com base em homologias que, ao mesmo tempo que marcam diferenças, permitem a conflução. O primeiro elemento está no fato de que a Torah, no âmbito do judaísmo, é entendida como "lei" e Moisés como "legislador"; por outro lado, essa lei, que se aplica à totalidade do cosmo, envolvendo phýsis e homem, tem seu fundamento no que Fílon denomina "noetòs kósmos", ele tendo sido o primeiro a forjar essa denominação, a partir do "noetòs tópos" referido na República de Platão, o que retira sua legislação do plano das utopias; finalmente, importa verificar como se fazem as duas politeías: se Platão se vale de argumentos e mitos, Moisés, tido por Fílon como o maior dos "filósofos", não só estabeleceu leis, mas, com a narrativa que inicia com a criação do mundo, explicitou seu fundamento, ou seja, usou a diégese como o principal argumento para demonstrar que elas são boas e persuadir seus recebedores de que devem ser seguidas.

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BUSTAMANTE, Regina
Representações musivas afro-romanas de domínios rurais: utopia?
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Um dos temas recorrentes nos mosaicos afro-romanos datados do Dominato (séculos III ao V) foi a representação de domínios rurais. Tradicionalmente, os estudiosos em mosaicos deste período tendem a enfatizar a relação desta temática com a valorização social de ser proprietário rural. Para Precheur-Canonge (1962) e Parrish (1979), estes mosaicos precisavam o modo de vida da aristocracia que, durante a primavera e o outono, abandonava suas domus urbanas pelas villae campestres. Nesta mesma diretriz, posiciona-se Sarnowski (1978) que, ao analisar a origem de 13 mosaicos, constata que 11 deles provinham de domus urbanas, concluindo que estes mosaicos não se relacionavam à realidade do ambiente imediato, mas publicizava, nas salas de jantar (triclinium) ou de recepção (exedrae e oeci) destas domus, cômodos onde se recebiam os convidados, a villa rural do proprietário, fonte de riqueza e prestígio social. Podemos acrescentar ainda Février (1981) e Duval (1986), que destacam a função prevista das imagens: a decoração concebida para fazer sonhar e reportar ao ócio rural da elite. Por sua vez, os historiadores que analisam este tipo de fonte, como Merlin (1921), Rostovtseff (1926), Grabar (1962), Dunbabin (1978 e 2000), Veyne (1981) e Thébert (1985), Fantar (1994), Fradier (1997), Ling (1998) e Ennaïfer (2003), enfatizam as transformações socioeconômicas advindas de uma crescente ruralização, concentração fundiária, intensificação da hierarquização social e adoção do colonato durante o Dominato, prenunciando algumas características que se consolidaram no Medievo. Nesta comunicação, apresentamos outro viés interpretativo, a partir do cotejamento destas representações musivas com textos legislativos para o período (Codex Theodosianus e Corpus Iuris Ciuilis), que tratam das garantias exigidas pelas cidades dos particulares e magistrados, aos quais eram confiados os fundos públicos. Assim, busca-se refletir sobre a participação das elites terratentes na vida política das comunidades locais, considerando a relação entre a qualidade de proprietário fundiário e o acesso aos cargos públicos nas cidades romanas ocidentais no Dominato.

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CARDOSO, Libanio
A pólis de Aristóteles
Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Da Política aristotélica extraímos três teses, para meditar sua politeía. A primeira afirma a distinção entre pólis e clã familiar. A segunda tese expressa-se assim: muitos animais comunicam-se e transmitem o estado de alegria ou dor, a condição de prazer ou desconforto; isto, porém, não significa que têm lógos. O homem é o zôon a que pertence lógos, porque se determina, não sob a restrição do contentamento e do agrado, [mas] por relação à Justiça. Por fim, a terceira tese: a música deve ser aprendida – mas não exercida – por todo aquele que educamos para intervir e, eventualmente, governar a pólis; a educação que visa à compreensão musical tem, pois, finalidade política e é um item necessário para esse fim. As teses devem formar o horizonte para pensarmos o sentido e o alcance das críticas à República platônica, encontradas no Livro II e em outros momentos do tratado. Uma diversa concepção do político e da educação devem ser ao menos entrevistas, a partir das teses.

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CURADO, Ana Lúcia
A essência da vida política segundo Demóstenes
Universidade do Minho, Portugal

Ao longo de diversos discursos políticos do Corpus Demosthenicum (Discurso sobre as Simorias, Filípicas, Olintíacas, Sobre a Paz, Oração da Coroa, entre outros) tentaremos evidenciar a força e o valor que as palavras tomam na atuação política do orador ático. A sua vocação de homem político leva-o a defender os interesses e os valores atenienses face a um inimigo que não é sempre o mesmo, e a resistir aos avanços estrangeiros. A defesa do bem é o móbil que impulsionou toda a vida política de Demóstenes. As circunstâncias em que Demóstenes escreveu os seus discursos políticos não se podem repetir; esta situação tende a apoucar o valor perene destes textos oratórios. Contudo, a presente comunicação procura defender a ideia de que há uma reflexão política perene de Demóstenes, cujo valor atravessa os séculos.

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FIALHO, Maria do Céu Grácio Zambujo
De novo A República de Platão: utopia sem teatro?
Universidade de Coimbra

A imagem platónica do ‘espelho’ para transmitir ao leitor a perspectiva de uma mimese de aparências, assenta na proposta de um juízo da arte (e da arte dramática, em apreço), a partir de um critério de relação ontologia-estética, em que esta segunda se apresenta desvalorizada, equacionada com a parte não-racional da alma.
Procuraremos buscar os momentos de contradição platónica, em que o Filósofo aceita, implicitamente, a carga epistemológica dos sentimentos da intuição e o seu contributo para a construção-compreensão da Cidade.

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FLORES JÚNIOR, Olimar
Licurgo, Platão, Diógenes e Zenão: Plutarco leitor de politeiai
Universidade Federal de Minas Gerais

No final de sua Vida de Licurgo (31, 1-6), Plutarco apresenta uma espécie de súmula dos feitos políticos que colaboraram para fazer de Licurgo um quase deus. O escritor de Queroneia sublinha aí, numa comparação que assimila as politeiai de Platão, Diógenes e Zenão, homens que "só deixaram livros e discursos" (grámmata kaì lógous apolimpóntes mónon), a superioridade da legislação "efetiva" (en érgo(i)) que Licurgo promulgou em Esparta. O presente estudo pretende extrair da oposição que essa passagem evoca, entre as "repúblicas dos filósofos" e a "república do político" (que já anuncia a crítica ao caráter "utópico" do pensamento político da Antiguidade), elementos que permitam um melhor conhecimento das repúblicas atribuídas a Diógenes e a Zenão, hoje perdidas, frente à obra homônima de Platão, que se conta como um dos textos filologicamente mais seguros e indubitáveis que o mundo antigo nos legou.  

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HADDAD, Alice Bitencourt
A narrativa de Crítias, uma “atopia”
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Crítias descreve a história que vai contar, no diálogo platônico que leva seu nome, como um lógos muito estranho, singular (átoposCrítias, 20d), mas em tudo verdadeiro. Buscaremos compreender, neste trabalho, em que consiste essa “atopia”, o que ela significa nesse contexto em que o personagem-narrador deve retribuir a hospitalidade de Sócrates com um discurso que se enquadre na discussão acerca da melhor constituição política.

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HIRSCH, Antonio Carlos Luz
Narrativa e verdade: uma reflexão sobre a arkhé do gênero utópico
Programa de Estudos em Filosofia Antiga da UFRJ

A utopia narrada na Politeía platônica repousa sobre o princípio de que as palavras têm mais aderência à verdade do que às ações. Esta origem do discurso de Platão é explicitada por Sócrates nos primeiros livros do diálogo e deve ser analisada como a arkhé do gênero utópico perseguido por Platão. O axioma socrático enuncia talvez a peculiaridade mais marcante do gênero utópico, o compromisso irrestrito com a verdade. Se os intérpretes sublinham unanimemente a importância central da investigação sobre a justiça em Politeía, resta-nos procurar esclarecer a relação entre verdade e justiça, pois, através deste elo, cremos ser possível chegar mais perto de compreendermos as razões que fizeram da filosofia um gênero utópico por excelência.

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HOLANDA, Luisa Severo Buarque de
Mímesis e utopia na República de Platão
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

O intérprete que trabalha com o tema da mímesis na República de Platão costuma se defrontar com um paradoxo, no que diz respeito à mimetização no âmbito humano. Por um lado, a obra sugere uma certa inexorabilidade mimética: o homem é feito para mimetizar, obrigado a isso. Por outro lado, há uma série de problemas relativos à mímesis, e uma forte recomendação para que se procure evitá-la. Em suma, seria possível dizer: segundo os livros II e III da República, a mímesis é, no âmbito humano, o inevitável a ser evitado. A tematização dessa questão remete, sem dúvida, ao problema dos critérios de seleção dos paradigmas a serem mimetizados, assim como à maneira de mimetizá-los. Eu gostaria aqui, porém, de acrescentar um outro viés de análise do tema, a saber: o tratamento do problema da mímesis na República por meio do caráter utópico da própria obra.

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LESSA, Fábio de Sousa
Utopia e Gênero em Aristófanes
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Nesse texto, propomos articular as reflexões acerca dos conceitos de utopia e de gênero, como construção sociocultural na sociedade ateniense do século V a.C., a partir das comédias de Aristófanes.
As comédias selecionadas para análise são Lisístrata (411 a.C.) e Assembleia de Mulheres (392 a.C.). Tal escolha se deve ao fato de as protagonistas dessas peças serem personagens femininas em situações que comumente são entendidas como utópicas.
Por mais utópicas que possam parecer as situações vivenciadas pelas personagens aristofânicas, defendemos que essas personagens são as atenienses com as quais se convive no cotidiano, nos espaços privados e/ou públicos; isto é, elas são míticas. E o que aparentemente pode ser o absurdo, é, na verdade, um meio para a reflexão, através do riso, do cotidiano ateniense.

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MORAES AUGUSTO, Maria das Graças de
Politeía e utopia: o caso platônico
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Os gregos antigos, embora não tenham sido os inventores do termo ‘utopia’ utilizaram largamente o gênero e o modo utópicos para expressarem suas ideias sobre a ordem social.
Desde Hipodamos de Mileto e Faleas de Calcedônia, possivelmente inspirados em Pitágoras e nos primeiros pitagóricos, até os sofistas e Aristófanes, o tema foi lentamente adquirindo conteúdo filosófico, atingindo a maturidade no texto platônico.
A reflexão de Platão sobre as relações entre a justiça (dikaiosýne) e a politeía, tal como apresentada, por exemplo, na Sétima Carta, nas Leis, no Timeu e no Crítias, possibilitam mostrar que a República, enquanto construção utópica, se constitui, não em um ‘Estado ideal’ (no sentido de irrealizável e por oposição aos ‘Estados reais’), nem num pastiche histórico de modelos políticos (notadamente Esparta), mas na forma possível da ação política do filósofo nas diferentes formas de politeía.  Pois, se o filósofo não pode prescindir de agir de modo justo, o recurso da ‘escultura’’  da “politeía reta e bela” constitui-se em uma efetiva ‘ação política’.

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MOTTA, Guilherme Domingues da
Aristóteles e a politeía platônica
Universidade Católica de Petrópolis

Embora muitos entendam que a leitura de Aristóteles da República, de Platão, na sua Política, incorra em graves erros e distorções, é preciso reconhecer que ele percebeu com argúcia certas teses, implícitas ou explícitas no argumento da República, que podem contribuir para a leitura correta do texto. Um desses pontos em que a leitura de Aristóteles deve ser mais considerada, ao contrário do que se faz, é aquele em que, ao tratar do grau de unidade que deve ter uma cidade, critica a comunidade de bens, mulheres e filhos proposta na República. Em um primeiro momento de sua crítica, supõe que essa comunidade se estende a todos os cidadãos, ou seja, todas as classes que compõem a cidade. Embora Aristóteles, logo depois, afirme que  Sócrates, na República,  não deixou claro se essa comunidade de bens, mulheres e filhos se estende a todos os cidadãos, percebe e destaca as incoerências que resultariam para a obra caso a comunidade não se estendesse a todos. Esses dois aspectos da interpretação de Aristóteles devem ser levados em consideração para se chegue a uma boa leitura da República.

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OLIVEIRA, Camila do Espírito Santo Prado de
A cidade de Ouro
Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Federal do Ceará

No livro II da República, Sócrates – desafiado pelos filhos de Aríston a verdadeiramente convencê-los, contra o juízo convencional da cidade histórica, de que a justiça é um bem que se quer por si mesmo e pelas suas consequências – promete defender a justiça nos limites de seu poder. Para isso, o homem que passou a vida, segundo Adimanto, a examinar esta e apenas esta questão – o que é a justiça? – propõe a seus interlocutores contemplar no discurso uma cidade vindo a ser. Desta maneira poderiam ver, em letras maiores do que aquelas que apareceram inscritas no homem, o surgimento da justiça e da injustiça. A analogia entre homem e cidade é, pois, a base sobre a qual prosseguirá a investigação no diálogo. Em um artigo precursor dos estudos sobre a relação entre Hesíodo e Platão, Solmsen afirma que, no tempo que passou entre as obras dos dois autores, os gregos descobriram que as realidades da vida política eram muito mais complexas do que o poeta beócio havia imaginado. Um indício fundamental desta transformação, segundo nos parece, é a necessidade de superação da opinião da cidade histórica através de um exame discursivo que busca contemplar, através da produção de uma cidade, o princípio da vida política. Mas será que não podemos reconhecer em Hesíodo um movimento semelhante? Será que a presença hesiódica na República de Platão, marcadamente a reelaboração do mito das idades, não é um indício de que o filósofo reconhecia em Hesíodo tal movimento? Estas são as questões que enfrentaremos neste trabalho.    

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OLIVEIRA, Lethícia Ouro de
Céu, cidade e sonho: contextos em que a pintura é referenciada no Timeu de Platão
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Colégio Pedro II

Como já apontado por alguns comentadores, dentre as técnicas artesanais utilizadas pelo demiurgo divino para confeccionar o mundo no Timeu de Platão, encontra-se a técnica pictórica. As constelações celestes são pinturas ou bordados divinos (diazográpho), feitos pelo uso do dodecaedro. A essa ocorrência da arte pictórica no Timeu somam-se outras. Logo no início do diálogo, o personagem Sócrates compara o que sente frente à constituição (politeía) construída na conversa do dia anterior – provavelmente a da cidade utópica da República – com seu páthos frente a uma representação pictural (graphé) ou ainda a animais em repouso: ele é tomado pelo desejo de vê-los em movimento; quer saber como a cidade (pólis) comportar-se-ia em guerra, em ação e em negociação. Por fim, a arte da pintura ainda aparece no mesmo diálogo, no Timeu, em um contexto, para nós, bastante curioso: o dos sonhos proféticos. O personagem Timeu afirma que, quando vamos dormir, o noûs é capaz de produzir um sopro doce que pinta, de longe (apozográpho), nosso fígado. Esse órgão pode ser doce ou amargo. Quando amargo, causa-nos doenças e mal-estares. Já quando é pintado pelo sopro doce, a parte apetitiva de nossa alma, localizada nessa região do corpo humano, é ordenada. Somos então visitados por sonhos proféticos que revelam a verdade sobre o passado, o presente ou o futuro. Dadas as ocorrências citadas da arte pictórica no Timeu, temos como objetivo de nosso texto compreender as características desse, hoje chamado, gênero artístico, revelando, assim, aspectos do céu, da cidade ideal e dos sonhos proféticos ressaltados nessas passagens. Algumas questões guiarão nosso caminho interpretativo: é possível constatar, na filosofia platônica, alguma similitude entre o céu, a cidade ideal e os sonhos proféticos? Essa semelhança poderia apontar para uma compreensão do próprio Platão acerca da pintura? Nosso texto pretende desenvolver essas questões, apontando, assim, para uma interpretação de temas cruciais no pensamento platônico, como o político, assim como de temas tão debatidos e controversos, como o das artes em geral.

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PRADO, Germano Nogueira
Do paradigma divino
Universidade Federal do Rio de Janeiro e Colégio Pedro II

O interesse da exposição é pensar o lugar da ideia de bem na produção, por parte do filósofo-demiurgo (500d), de caracteres (êthe) humanos o mais próximos e "agradáveis" aos deuses quanto for possível (Platão, República, VI, 501 a-c). Procuraremos mostrar que a ideia de bem, em virtude da qual o que é justo e tudo o mais vem a ser “útil e valioso” (505a), é responsável pelo acabamento do(s) paradigma(s) divino(s) (500e) em vista do(s) qual(is) os caracteres humanos serão modelados. E se é verdade que o que perfaz o paradigma é ou bem a constituição (politeía) que Sócrates, Adimanto e Glauco vinham delineando desde o livro II da República ou bem aquilo desde que a constituição reta e boa vem a ser ou bem uma “composição” entre esses elementos, em qualquer um dos casos, parece-nos, o acabamento do paradigma coincide com a passagem do “esboço” (501a; 504d) da constituição para ela mesma, agora como obra acabada (504d). É a partir desta obra modelo que o filósofo poderá pintar os caracteres humanos, se, na pólis, lhe for dada a ocasião para tal, seja pela própria constituição (499b), seja por “intervenção divina” (496c;499c). Nesse sentido, por um lado, é preciso que a comunidade abra espaço e dê condições para que o filósofo exerça sua demiurgía; por outro, esta abertura só é possível por intervenção divina – que, talvez, não seja senão essa abertura mesma. Em todo caso, só aquele que, após uma penosa “habituação” (synetheías, 516a), habita a proximidade do que é divino, pode ser ocasião de e pode responder pela aproximação, na medida do possível, de cada um e da comunidade humana ao que faz do próprio humano o que ele é; a aproximação àquilo que, no fundo, mobiliza todas as possibilidades humanas (505d-e) – o bem como tal.

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SCHMITT, Alexandre
A cidade sonhada: filosofia, utopia, sonho e adivinhação
Universidade Gama Filho/Universidade Federal do Rio de Janeiro

No passo 173a do Cármides, Sócrates relata um sonho que tivera com uma cidade que era governada pela temperança. Citando uma famosa passagem da Odisseia, Sócrates diz não saber se o seu sonho viera pela porta de marfim ou pela porta do chifre, ou seja, se se trata de um sonho enganador ou de um sonho profético. A investigação do seu sonho acaba sendo um pretexto para uma discussão acerca da distinção entre o discurso do filósofo e o do adivinho. Este trabalho pretende investigar a natureza do status utópico da politeía platônica a partir da distinção entre esses dois discursos.

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SOARES, Carmen
O Político de Platão e o fim da politeia utópica
Universidade de Coimbra, Portugal

Na sua busca incessante de uma resposta satisfatória para um dos problemas que atormentam a sua faceta de cidadão interessado na vida política da sua cidade, Platão ensaia, uma vez mais, responder à questão fundamental para uma efectiva transformação (e a seu ver melhoria) da governação dos homens. Assim, assistimos n’ O Político a uma viragem importante do pensamento político do filósofo, nítidamente apostado em criar uma proposta (que ele considera) verossímil e deseja aplicável. A rejeição de um modelo utópico de politeia ganha particular expressão na substituição do paradigma do rei-pastor pelo do rei-tecelão.

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SOUSA E SILVA, Maria de Fátima
O Hades e a polis. O tema utópico da catábase
Universidade de Coimbra

A prosperidade e projecção da Atenas clássica conviveram de perto com a crise que se foi instalando ao longo do séc. V a. C. O saudosismo por um passado de grandeza cada dia mais distante sugeriu aos poetas da comédia – reabilitando um tema de tradição épica – o regresso à catábase. Trazer do Hades os grandes políticos e intelectuais do passado tornou-se uma forma de responder à carência de talentos e a um certo esbatimento da vitalidade colectiva. Além das Rãs de Aristófanes, um número apreciável de peças fragmentárias são disso mesmo a prova.

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