VII Colóquio Platônico
Politeía, VII

 

ARAÚJO, Carolina de Melo Bomfim
A periagogé e o argumento da unidade da alma
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Há um longo debate entre os comentários sobre a posição platônica em relação à alma na República. Se, por um lado, um princípio explicativo do conflito interno sustenta o argumento da tripartição da alma no livro IV; por outro, o argumento da imortalidade, apresentado no livro X, defende a sua unidade. O que pretendo nessa comunicação é contribuir a esse debate apontando para como a tese sobre a educação como um modo de conversão (periagogé) de uma capacidade sempre presente na alma – indestrutível, portanto (518d) – sustenta a conexão entre as teses da tripartição e da unidade da alma. Pretendo indicar que há na base deste argumento uma distinção entre existência e essência da alma, e uma função específica do bem e da violência na conexão entre os dois. Por fim, sugiro uma leitura específica da retórica mereológica em questão na analogia entre a cidade e a alma.

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BOLZANI FILHO, Roberto
Ética e Metafísica em República VI-VII
Universidade de São Paulo

Nos livros centrais de República (5, 6 e 7), considerados o núcleo filosófico do diálogo, Platão elabora uma posição razoavelmente definida, ou ao menos bastante desenvolvida e de forma articulada, sobre temas ontológicos, epistemológicos e éticos. A distinção entre conhecimento, opinião e ignorância, associada às diferenças entre formas e sensíveis, o papel da Forma do Bem mediante a analogia do sol, a divisão da linha, a alegoria da caverna, as ciências propedêuticas e a dialética, são todos momentos de construção da concepção de filósofo e de filosofia que fundamentam a cidade justa. Um dos mais instigantes e obscuros temas dessas páginas nos parece ser o da exata compreensão do estatuto de algumas afirmações que ilustram importante associação entre a Metafísica das Formas e certo vocabulário costumeiramente empregado em contexto ético-político. No Livro VII, referindo-se à “visão” da Forma do Bem, Sócrates a ela se refere como tò eudaimonéstaton toû óntos, “o mais feliz dos seres” ou “da totalidade do que é, o que é mais feliz” (526e). Mais adiante, trata-se de aludir a “o mais excelente entre os seres” (toû arístou en toîs oúsi) (532c). Essa maneira de falar já se apresentava no Livro VI, quando as Formas eram descritas como seres que “entre si nem cometem nem sofrem injustiças” (oút’adikounta oút’adikoúmena hyp’allélon) (500c). Nesta exposição tentaremos pensar algumas possibilidades de compreensão desse vocabulário: simples metáfora? Ou, na verdade, uma forma possível, talvez a única, de que o homem dispõe compreender o que o transcende? Seja como for, aí se vê como, em Platão, Ética e Metafísica não podem ser bem compreendidos, se tratados em separado. E como a Metafísica proporciona fundamentos inquestionáveis para a Ética.

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BRANCACCI, Aldo
L’armonia tra epistemologia e filosofia
Università di Roma Tor Vergata

Nel VII libro della Repubblica Platone riserva una trattazione analitica all’ambito delle discipline matematiche il cui criterio di valutazione è d’ordine squisitamente filosofico. In questo ambito rientra anche l’harmonia, e ad essa Platone presta ampia attenzione, come mostra anche solo la grande varietà di orientamenti teorico-filosofici e di indirizzi musicali presi in esame, che vanno dai teorici d’estrazione empirista ai Pitagorici, esplicitamente nominati. Ma se la filosofia della matematica platonica, che è operante in questa pagina, è abbastanza facilmente comprensibile, l’interpretazione e, prima ancora, la comprensione dell’obbiettivo che egli affida all’harmonia (intesa in senso platonico, di contro all’harmonia storicamente costituita), sono ardue, e la questione è oggetto di un dibattito tra gli studiosi. Le difficoltà cominciano dal significato che si possa attribuire alla formula stessa che Platone utilizza per definire l’oggetto dell’harmonia. Per quanto mi riguarda, cercherò di chiarire il significato della locuzione platonica arithmoi symphonoi, e. nell’ interpretare questa formula, sosterrò che essa implica effettivamente un radicale, decisivo svincolamento della scienza armonica dal suo fondamento sensibile. Platone sottopone a un test le discipline scientifiche, un test alle quali queste possono, per loro intrinseca natura, rispondere solo in maniera differenziata e, nel caso dell’harmonia, parziale. Di fatto, intesa come Platone la intende, l’harmonia rischia di essere interamente riassorbita all’interno dell’aritmetica matematica platonica, e di scomparire in essa, perdendo il suo statuto epistemologico, come è possibile mostrare anche attraverso l’esame di un passo delle Leggi fin qui mai posto in connessione con quello della Repubblica.

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COSTA, Ivana
Partes del alma dentro y fuera de la caverna
Universidad de Buenos Aires

La imagen de la caverna culmina con una distinción, en 518d-e, entre virtudes morales y virtud intelectual. Se observa allí que, a diferencia de las demás aretaí del alma, más próximas a las del cuerpo, la virtud del pensar (he areté toû phronêsai), más divina y poderosa, no está siempre necesariamente orientada a lo que es bueno, sino que puede dirigirse con toda su agudeza y claridad hacia el mal.  El pasaje revela el interés platónico por las dificultades de una ética intelectualista a la hora de explicar el obrar injusto de personas que poseen sus facultades intelectuales plenamente desarrolladas. De hecho, la tripartición del alma de Rep. IV provee un esquema más complejo para la explicación de las motivaciones de la acción, en el cual el alma ya no se identifica tout court con la dimensión intelectual sino que es unidad compleja de funcionamiento de diferentes principios de acción en pugna. Si bien el propósito de las tres imágenes, la del sol, la de la línea y la de la caverna, es caracterizar al Bien como el mégiston máthema que debería poseer el gobernante-filósofo, lo que implica subrayar el valor de las facultades y procedimientos cognitivos, la imagen de la caverna –la única de las tres que ilustra la relación entre niveles de realidad, grados de conocimiento y su valor para el obrar ético-político— insinúa también que para “soportar la contemplación del Bien” es necesario el compromiso de las tres partes del alma. Lo que sugiere el pasaje 518d-e es que la parte racional sola no es suficiente para alcanzar el objetivo de unir filosofía con liderazgo político. La parte racional sola no alcanza.  Si el deseo y la iracundia no están, ellos también, dirigidos al Bien, la empresa educativa resultará inútil. En un trabajo reciente, David Sedley defendió la posición contraria. A su juicio, la visión del alma expresada en la imagen de la caverna es “thoroughly intellectualist”. Si bien admite que “the Republic’s earlier division of the soul into three parts has not been altogether discounted”, de todos modos entiende que “the lower soul-parts make no contribution to it at all” (Sedley, “Socratic intellectualism in the Republic’s central digression”, en Boys-Stone, Gill y El Murr eds., The Platonic Art of Philosophy, Cambridge University Press, 2013, pp. 70-89.).  En este trabajo me propongo mostrar que esta perspectiva intelectualista deja sin explicación algunos elementos relevantes de la analogía. A la vez, trataré de mostrar que el reconocimiento de la efectiva presencia de una visión tripartita del alma en la imagen de la caverna permite ver más claramente la proximidad entre los planteos de República VII y varios aspectos centrales del tratamiento aristotélico de la areté en las Éticas.

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FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho
Petrus Ramus: Uma leitura renascentista de Platão
Universidade de São Paulo

Petrus Ramus propõe um exame da "Caverna" que afasta a interpretação metafísica do texto platônico, na qual a imagem do Bem é compreendida a partir da pesada herança aristotélica e neoplatônica. Seu ponto de partida é a intrínseca ligação entre dialética e poesia.

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HADDAD, Alice Bitencourt
Sobre a eikasía
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

O termo eikasía ocorre duas vezes na República inteira: uma no final do livro VI (511e), quando da imagem da linha dividida, designado como um páthema da alma cujos objetos estão mais afastados da verdade e da clareza; a segunda no livro VII (534a), ao final do percurso pelos estudos a serem enfrentados pelo filósofo, numa retomada e ratificação da “linha” como um esquema de compreensão da cognição. O presente trabalho visa a apresentar uma interpretação do que vem a ser a eikasía dentro do quadro geral da República, com o apoio de outros poucos textos platônicos que utilizam o termo (Crítias e Leis) e dos comentários sobre as passagens.

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HIRSCH, Antonio Carlos Luz
Filosofia e narrativa na República de Platão
Programa de Estudos em Filosofia Antiga da UFRJ

Meu projeto consiste em chamar atenção para a questão implicada na abordagem difusa no âmbito dos Estudos Platônicos que pressupõe ser a parte central da República o locus da "epistemologia" e da "ontologia" que alicerça a filosofia de Platão. Parto do argumento de que o Livro VII trata da viabilidade da filosofia identificada com a ação de mithologein e tal escopo conduz o logos ao extremo da racionalidade.
No século XX, muito por influência do estudo de Heidegger sobre a questão da verdade, multiplicaram-se as análises dando conta de esclarecer detalhes e até mesmo incongruências do texto da República, direcionando ao diálogo e à seu autor problemas de natureza linguísticos e lógicos. Resta saber se o Livro VII solicita esta leitura e comporta tais críticas na medida em que, antes de estar preocupado em constituir o discurso filosófico a partir da noção de akribeia, o texto fornece um arremate mítico como o fundamento da construção da cidade justa, bela e boa.
O estatuto da filosofia, então discutido, tem uma forte vertente ficcional que não deve ser abandonada. A apresentação do processo de conhecimento próprio ao filósofo feita por Sócrates contém a descrição de um percurso que talvez jamais tenha sido percorrido exaustivamente por um humano. Torna-se preciso igualmente ter-se em conta que a aderência à ideia de bem se dá em nível da doxa verdadeira já que o "bem em si" se encontra para além do próprio logos. 
Neste sentido o Livro VII não deve ser considerado exatamente um programa da Academia e sim a realização de um projeto atrelado à fundação da filosofia como gênero, ou seja, à intenção de construir em palavras um topos que permita ao filósofo existir e ser justo.

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LIMA, Paulo Butti de
A caverna como alegoria política
Universitá Aldo Moro di Bari

A alegoria da caverna, apresentada como narração de um processo de conhecimento, assume, no decorrer do sétimo livro da República, um preciso significado político. Não se trata de uma verdadeira transformação, visto que a referência política estava presente, desde o início, na representação da vida dos homens acorrentados. Mas o significado político da caverna, retomado através do sétimo livro, cria dificuldades não somente quanto à teoria do conhecimento que devia ser ilustrada, mas também quanto ao próprio projeto da cidade justa, do qual este livro oferece a conclusão. Objetivo desta relação será acompanhar o desenvolvimento da interpretação política que Sócrates oferece da alegoria e mostrar suas implicações para a teoria política platônica. Deveremos analisar, inicialmente, o “lugar” da alegoria no interior da argumentação: esta se apresenta, com efeito, em função da paideía e da apaideusía, ou seja, em função do processo educativo filosófico, que era o fim do diálogo enunciado na metade do sexto livro e que vai ser concretizado após a apresentação da alegoria e de suas implicações. Em seguida, observaremos como a alegoria se apresenta, ora como expressão de um processo de conhecimento, ora como representação da posição do filósofo na cidade. Em um terceiro momento, analisaremos o modo em que o próprio Sócrates oferece uma interpretação concretamente “política” da alegoria para, enfim, discutirmos as consequências dessa interpretação para a visão platônica da cidade justa e das cidades degeneradas.

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MARQUES, Marcelo Pimenta
Ver não é saber
Universidade Federal de Minas Gerais

Tendo já discutido, em outros momentos, em que medida a experiência da visão, enquanto metonímia da percepção sensível, é uma boa imagem do saber dialético, proponho-me nesta comunicação avaliar as limitações da metáfora visual, no livro VII da República. Nesse sentido, pretendo: refletir sobre a oposição entre o que há de imediato na percepção e o papel mediador de toda reflexão; avaliar os limites das imagens (520C4-5; 532C1-2; 533A2-3) em contraposição à dimensão argumentativa ou 'proposicional' do saber dialético; mostrar como a especificidade do inteligível é incompatível não só com a mera temporalização do acesso a ele (linha, sequência, sucessão), mas também com a espacialização da configuração ontológica de seu objeto (contiguidade física, localização); reconhecer que o saber do inteligível exige a capacidade de retomar e de resignificar, algo de que a percepção sensível, enquanto tal, é incapaz; avaliar o quanto a mera experiência do 'perceber', seja enquanto adesão aos valores do apetitivo, seja enquanto fixação em juízos hegemônicos, deve ser compreendida como obstáculo para o 'conhecer'.

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MORAES AUGUSTO,  Maria das Graças de
O proêmio ao nómos dialético
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Tomando por base a definição de prooíomion contida em Leis, 722c-d –“todo discurso, e tudo em que a voz participa comporta um proêmio” –, o objetivo de nossa comunicação será o de mostrar: [i] o valor filosófico atribuído por Platão ao proêmio, o que o diferencia dos proêmios literários, poéticos e retóricos, e, [ii] que a República é o momento  exemplar para da compreensão função filosófica dos proêmios.
Nesse sentido, o passo 531d8e-1-532a1-6, assinalando o terceiro proêmio do diálogo, indicará não só o valor proemial na conformação ‘lógos dialetikós’, mas, atribuirá à dialética o ambíguo valor de nómos, mesclando tanto seu valor musical, quanto seu valor político.

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OLIVEIRA, Camila do Espírito Santo Prado de
Entre necessidade e beleza: retirar-se da e retirar-se à Ilha dos Bem Aventurados
Universidade Federal do Cariri

O trabalho colocará em discussão as duas referências feitas por Sócrates à Ilha dos Bem Aventurados, no livro VII da República (519c e 540b). Na primeira passagem ele diz ser necessário proibir os libertos, que tenham contemplado suficientemente o Bem, de permanecerem “lá” como se tivessem sido levados em vida à Ilha dos Bem Aventurados. Na segunda passagem, a recompensa do retiro dos heróis é prometida àqueles que tenham exercido sua função política e formado outros para serem como eles. A necessidade da atuação político-pedagógica é contraposta, neste momento, à beleza da filosofia.
O caminho proposto para nossa reflexão será o de retomar a imagem da Ilha dos Bem Aventurados em Hesíodo focando sua relação com a necessidade do trabalho atribuída ao poeta à condição humana atual. Será o retiro à Ilha dos Bem Aventurados da filosofia o fim do obrar ou ele é a promessa, sempre renovada, que se pode legar como bela obra a quem está vivo? Em que medida o merecimento do retiro depende da permanência de atuação em outro do que se retirou? Como estas questões repercutem na compreensão da atividade político-pedagógica apresentada no livro VII da República?

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RIBEIRO, Adriano Machado
Dialética:  paidion ou paideia?
Universidade de São Paulo

No livro VII da República, após estabelecer o estágio final da dialética alcançada pelo filósofo enquanto conhecimento que se apresenta como visão de conjunto, reunindo natureza e educação em direção ao próprio ser e à verdade, Sócrates passa a discutir sobre a razão dos males da dialética, tal como ela, de acordo com a personagem de Platão, seria praticada contemporaneamente  (537b-e). Apresenta ele, então, uma imagem:  uma criança, educada por pais que não lhes são os verdadeiros, ao descobrir isso, abandona todos os ensinamentos destes para seguir os aduladores dos que antes já a cercavam, mas aos quais ela resistia. Do mesmo modo, os preceitos e as máximas do que se aprende desde a infância como justo e verdadeiro são abandonados por aquilo que lhes é oposto, mas que é  prazeroso e adula a alma. Explorando a comparação, Sócrates crê que isso se passa porque tais ensinamentos são refutados continuamente, já que os valores estabelecidos pelo legislador são descartados e negligenciados pelas refutações (538c-e). Dadas, pois, as possibilidades argumentativas em que a reversibilidade discursiva embaralha e relativiza os valores éticos, Sócrates afirma ser fundamental que a dialética não seja praticada pelos jovens, pois, diz a personagem, “calculo que não passa despercebido que os rapazes novos, quando pela primeira vez provam a dialética, se servem dela, como de um brinquedo, usando-a constantemente para contradizer, e, imitando os que os refutam, vão eles mesmos refutar outros, e sentem-se felizes como cachorrinhos, em derriçar e dilacerar a toda hora com argumentos quem estiver perto deles” (República VII, 539b, trad. M.H.R.P.). O perigo de tal prática para quem faz uso dela, insiste Sócrates, é o de não acreditar mais em  nada, acarretando que “eles mesmos e tudo o que respeita à filosofia são caluniados perante os outros” (Rep.VII, 539c).
A questão a ser proposta para se discutir é, em primeiro lugar, o que seria a dialética fora do horizonte de discussão da República? Seria ela sempre o melhor e mais seguro modo de conhecimento para Platão? Ou, por outro lado, há aqui uma crítica à prática socrática tal como Platão a modela na Apologia, visto que nela Sócrates, por afirmar que nada ensina, não se responsabiliza pela imitação de sua atividade pelos jovens? Traçar o horizonte em que se delineia o horizonte de tais questões será o objetivo central deste trabalho.

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SANTA-CRUZ, María Isabel
Dialéctica y cuidado de sí. A propósito del libro VII de la República
Universidad de Buenos Aires

El tema del cuidado (de sí y de los otros) es recurrente en los diálogos platónicos, ya desde la Apología. Si en los diálogos así llamados “tempranos”, en especial en el Alcibíades Primero, el acento está puesto en el cuidado de sí, en los diálogos de carácter político Platón parece desplazar el acento desde el cuidado de sí al cuidado de los otros. Tal es el caso de la República, donde los guardianes y gobernantes deben estar vueltos al cuidado de la ciudad y de los ciudadanos. A pesar de la insistencia en este volcarse a los demás, Platón no abandona su preocupación por el cuidado de sí mismo, entendido como cuidado del alma.
En continuación directa con los desarrollos del libro VI, el tema central del libro VII es la formación de los futuros guardianes y de los gobernantes de la ciudad a fundar. La educación, concebida como un volverse del alma entera hacia la región de lo inteligible para contemplar allí el ser y el bien (518 c-d; 521 c), es imprescindible para lograr que las mejores naturalezas lleguen a ser jefes y reyes de sí mismos y del resto de la ciudad (520 b; 540 a-b). Tras una descripción de las disciplinas (matemáticas) a impartir, que “conducen naturalmente a la nóesis” y “atraen hacia la ousía” (523 a) y purifican y reavivan el “órgano del alma de cada uno” (527 e), disciplinas que son el preludio de la melodía que hay que aprender (531 d), viene la dialéctica, que eleva a la mejor parte del alma hacia la contemplación de lo más excelso. Interesa rastrear, en el libro VII, el segundo de los considerados a menudo “libros centrales” de la República, aquellos elementos que nos permitan mostrar cómo el entrenamiento dialéctico es el modo de cuidar de sí mismo para tener entonces la capacidad de cuidar de la ciudad toda. Esa necesidad del cuidado de sí como condición para poder cuidar de los otros, expuesta explícitamente en el Alcibíades, reaparece así en la República. Desde la perspectiva de la República, podría apoyarse una interpretación dialéctica (y no una teológica) del cuidado de sí en el Alcibíades Primero.

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